sexta-feira, 28 de junho de 2013

PASTORAL 30/06 - DOMINGO É DIA DE JOGO DO BRASIL. Escolha você!

DOMINGO É DIA DE JOGO DO BRASIL. Escolha você!
Dizemos que o Brasil é o país do futebol. Vários estudiosos tentam relacionar a nossa identidade nacional ao esporte mais praticado no mundo. Todos nós sabemos como ficam as ruas de nossa cidade quando tem jogo da seleção, literalmente a cidade pára. Quando em 1970, o Brasil ganhou a Copa do Mundo no México, parece que por alguns momentos todos se esqueceram que viviam em um “Regime de Exceção”.Por isso, para muitos, o futebol é um tipo de “circo” para alienar as pessoas em relação à realidade. No entanto, outros advogam que o futebol faz parte do que somos culturalmente falando, pois o futebol está na nossa forma de pensar, falar, ver o mundo e agir, isso fica bem claro em frases do tipo: “aos 45 minutos do segundo tempo” ou “o jogo só acaba quando o juiz apita”. Então, por um lado, o futebol tiraria a nossa atenção de coisas mais importantes e, por outro, ele faz parte de nossa mentalidade. Como fica isso? Seria mais fácil dizer que o futebol é coisa do diabo e que a bola é o “ovo do capeta”, como ouvia-se antigamente. Mas, o mais fácil nem sempre é o melhor, ou o mais correto.

A nossa vida é feita de escolhas, quando decidimos seguir em uma direção, ao mesmo tempo abrimos mão de outros caminhos. Simples assim. Quando dizemos sim para algo, no mesmo momento negamos o seu oposto. Por isso, Jesus diz: Seja o seu ‘sim’, ‘sim’, e o seu ‘não’, ‘não’; o que passar disso vem do Maligno".(Mateus 5:37). Então se eu decido ficar em casa para ver o jogo da seleção, estou abrindo mão de estar na congregação adorando ao Senhor, ouvindo a Palavra e em comunhão com meus irmãos. Isso é pecado? Claro que não, isso foi uma opção. Pode parecer que estou fazendo propaganda para você ir a Igreja no domingo, em certa medida sim, mas tem algo mais importante que isso.

Queria aproveitar para falar justamente das decisões que tomamos na vida. Temos o costume feio de não assumir nossas escolhas, quando os seus resultados são ruins, ou quando somos julgados ou cobrados. Aí, ficamos culpando o “Universo que conspira contra nós”, ao invés de reconhecer que a escolha foi nossa. Além disso, não somos como marionetes nas mãos de forças espirituais, sociais, psicológicas, etc., em última instância podemos até ser influenciados por tudo isso, mas nós é quem escolhemos ser ou não manipulados. Como Batistas, pregamos a liberdade de consciência como princípio norteador de nossa fé. Então, o livre arbítrio é entendido como uma dádiva de Deus, para que possamos escolher o caminho que queremos seguir em nossa vida, avaliando toda influência sobre nós, refletindo sobre as possibilidades, ouvindo as experiências de outros, etc., mas quem decide somos nós, de acordo com nossa consciência. Assim, o exercício da fé cristã batista é buscar uma consciência que seja inalienável – isso significa: quem escolhe é você de acordo com a sua consciência.

Agora, nossas escolhas podem ser orientadas pelos ensinamentos da Palavra de Deus, ou não. Então, Deus manipula nossa consciência? Claro que não. Queria eu que fosse assim, mas Ele apenas mostra a realidade das coisas na Sua Revelação, nós é que precisamos ter “ as nossa mentes (consciência) renovadas para que experimentemos qual seja a boa, perfeita e agradável vontade de Deus.(Rm.12:2 adaptado). Aqui, está a escolha de ter a nossa consciência renovada. Quando isso acontece de fato, não escolhemos mais em função das circunstâncias, mas em função de nossa fé, como disse Paulo:E isso para que vocês vivam de maneira digna do Senhor e em tudo possam agradá-lo, frutificando em toda boa obra, crescendo no conhecimento de Deus e Colossenses 1:10.  Ou seja, viver de maneira digna é muito mais que seguir um conjunto de padrões morais ensinados na classe de novos crentes, significa ser capaz de escolher a melhor parte daquilo que Deus tem.

Portanto, diante de qualquer situação que se põe a nossa frente, sempre temos uma escolha e ela terá os seus resultados. Negar a culpa não conserta nada, só adia a dor. Assumir o peso de nossas opções, também não basta.  É preciso ter o reconhecimento da decisão errada, para chegar ao  arrependimento  e receber o  perdão de Deus (I João 1:9), pois somente o perdão de Deus pode trazer paz para um coração atribulado (leia Salmos 32). Por isso, Jesus veio ao mundo, para ser o Caminho, nós podemos escolher seguir por esse Caminho, ou não. Não podemos ser arrastados por Ele, precisamos decidir estar Nele, não tem como seguir por Ele de forma alienada, pois a cada dia temos que escolher “tomar a cruz e seguir”. Então, meus amados irmãos que possamos, em qualquer situação de nossas vidas, escolher a melhor parte, aquela que não nos será tirada. (Lc.10:42)
PJ.

PASTORAL 23/06 - QUANTO VALE 20 CENTAVOS?

QUANTO VALE 20 CENTAVOS?
Vivemos no Brasil dias conturbados, onde ninguém sabe direito o que está acontecendo. O povo brasileiro foi às ruas dando um verdadeiro “grito de independência”, não como aquele inventado em 1822, mas um verdadeiro clamor das ruas ressoou nos quatro cantos de nossa nação, a voz do povo diz: “não aguentamos mais tanta distância entre o que deve ser feito e o que de fato nossos governantes decidem fazer. Com um estopim na questão do transporte público das cidades.
Gostaria propor algumas reflexões a respeito dos últimos acontecimentos:

1º NÃO SABEMOS O QUE ESTÁ ACONTECENDO
Muitos têm buscado entender o que aconteceu no Brasil nas últimas semanas, outros têm tentado impor uma interpretação tendenciosa para tentar esconder os reais problemas de nossa nação. Se olharmos para algumas características desse movimento, fica claro que, com certeza, sabemos o que o movimento não é. Não é só pelos 20 centavos, não é partidário, não é resultado de uma imposição da mídia, não contra o que o governo faz, mas contra o que ele deixa de fazer. E Por aí vai a lista. Nesta tentativa de classificação das manifestações chovem interpretações das mais loucas, revelando uma tentativa de apropriações da pressão popular. Por exemplo, quando as manifestações começaram a pipocar em todo Brasil, a mídia e os governantes teceram duras críticas, mas logo com a amplitude do grito de 17 de junho, quando mais de 100 mil foram às ruas no Rio e houve a invasão do teto do Congresso Nacional, acendeu uma luz vermelha para os dirigentes do Estado. No dia seguinte, o discurso mudou. Outro exemplo é o próprio diretório do PT nesta semana decide convocar seus militantes para participar dos protestos, numa tentativa de se apropriar do movimento. Portanto, sobre tudo isso, sabemos muito mais o que o movimento não é.

2º ESTAMOS VIVENDO UMA CRISE DE LEGITIMIDADE;
Um governo precisa de legitimidade para  “manter-se no poder”. A democracia, em tese, tem como princípio fundamental o governo que “emana do povo”, então quem dá legitimidade aos representantes do povo é o próprio povo. Se o povo não se vê representado e não vê o Estado cumprindo com o seu papel, temos um problema. Agora, admitir essa crise, significa admitir a necessidade de mudanças (reformas) profundas, para que se mantenha o “pacto social” entre o governo e os governados. Com certeza, os governantes sabem disso, mas não estão dispostos a pagar o preço de romper com os seus financiadores. Assim, a máquina do Estado Brasileiro, em todos os níveis, escolheu ser fonte de recursos para manter elites, em detrimento às reais necessidades da população. A lógica do Estado hoje é manter o sistema e nós não aguentamos mais tanta distância. Por isso, não se trata só de combater a corrupção, melhorar os serviços públicos, ou reduzir as tarifas das passagens, se trata de cobrar uma efetiva política de governo que atenda as reais necessidades da população. Na prática  precisamos nos perguntar: por que não tenho água encanada em casa? Por que não sou atendido com dignidade no hospital público? Por que minha cidade não é minha? Então, sem espaço, sem representação, resta ao povo a rua, o único espaço verdadeiramente democrático, onde grupos totalmente plurais encontram um ponto, um lugar e um “inimigo” comum, evidenciando uma unidade construída de baixo para cima e isso ameaça a ordem instituída, o Estado como conhecemos.

3º E A IGREJA COMO FICA?
Entendo que é difícil falarmos sobre isso no ambiente eclesiástico, pois existe uma tendência a separar igreja de política. Não quero discutir isso, mas refletir sobre o papel integral da missão da Igreja. Isso envolve muito mais que um plano de ação social ou assistencialismo que a Igreja possa realizar. Implica em entender o nosso papel no mundo como promotores da justiça e da paz, como diz
Isaías 1:17 :“aprendam a fazer o bem! Busquem a justiça, acabem com a opressão. Lutem pelos direitos do órfão, defendam a causa da viúva.” Podemos entender que isso se aplica em nossas atitudes cotidianas de valorização do próximo e das pessoas que se encontram em situações de necessidade. No entanto, podemos ir além de ações individuais. De um lado podemos promover na Igreja um espaço de reflexão sobre os acontecimentos, sem impor interpretações absolutas sobre os eventos, mas fazendo com que possamos pensar e questionar a luz de nossa fé como podemos interpretar os acontecimentos. Porém, devemos tomar cuidado para não perdermos o foco de missão verdadeira da Igreja. Sendo assim, Igreja e política podem ser pensadas juntas desde que a lógica seja uma luta pelos direitos daqueles que são oprimidos. E, nós estamos sendo oprimidos a cada dia. 

  CONCLUINDO:

Nesta semana o povo brasileiro não se reuniu para pular no carnaval, para ver jogos da seleção ou para ouvir cantores. O Brasil juntou-se para gritar “O gigante acordou”. Não sabemos o que vai acontecer: isso tudo pode ser absorvido e nada mudar, se transformando apenas em uma memória que será apropriada de formas justas ou não; ou pode gerar mudanças efetivas de promoção da justiça e de paz, mas para isso as instituições “apartidárias” como as igrejas, precisam tomar parte nesse movimento, promovendo uma conscientização dos acontecimentos e do nosso papel frente aos eventos.