Para mim, a fé é o tema
teológico mais complexo e misterioso de se trabalhar. Quando tentamos explicar
o que é a fé, nos limitamos a colocá-la em um lugar que não a comporta. Ou
seja, a fé não cabe na nossa razão. Por mais engenhoso que seja o esquema
explicativo, sempre estaremos limitando a fé a uma expressão religiosa, uma
experiência espiritual, uma forma de controlar as pessoas, ou um mecanismo
intrínseco de nossa humanidade. Por mais que a fé possa ser vista como um
instrumento argumentativo para aquilo sem explicação, ou uma forma de organizar
a mente de um conjunto de pessoas em relação a si e ao mundo, a simplicidade em
se construir uma certeza, tendo como base “aquilo
que se espera”, e a uma convicção baseada no que “não se pode ver”, assusta. Pois, a simplicidade assusta, porque pode
ser desconcertante e constrangedora.
A teologia tende a ver
a fé como algo que precisa ser racionalizado, pelo menos para compartilhar
nossa experiência. Nesse ponto, a religião vem e “impõe” uma organização para nossa
fé. No entanto, para percebermos que a fé é muito mais do que aquilo “interpretado”
pelo conjunto dos dogmas religiosos, precisamos mergulhar na experiência com
Deus em Cristo Jesus.
A Bíblia nos ensina que
a fé sem obras é morta (Tg.2:18), ou seja, a materialização de nossa
experiência pode ser percebida quando nossas atitudes se tornam frutos de nossa
convicção e certeza. Mas, o fato de “materializarmos” nossa fé, não explica de
onde Ela vem, apenas revela a nós e ao mundo que a temos. Já o livro de Hebreus, nos ensina que Jesus é
o autor e consumador de nossa fé (Hb. 12:2).
Assim, a fonte e o fim de nossa fé é Jesus. Isso significa que, no
sentido cristão, ela não está na “força de crer” que algo impossível vai
acontecer, ou no fato de se ter uma benção desejada. Significa que nossa fé é desenhada, escrita e composta por Jesus Cristo (Ele é o autor), da mesma forma Ele consuma essa experiência
em nossos corações, mentes e em nossas vidas. Portanto, a fé, em primeira instância,
não está relacionada com a benção desejada, mas ela está fundada e consumada em
Cristo.
Isso significa que,
quando buscamos instrumentalizar a fé para o imediatismo, fugimos do propósito
cristão para ela. A fé não é subjugada pelo tempo presente, pois ela aponta
para a realidade do “Porvir”. Sendo assim, a vida que vivemos hoje, a vivemos na fé do
Filho de Deus (Gl.2:20). Porém, hoje as pessoas querem uma fé que atenda as
necessidades dos desejos de consumo, das infantilidades emocionais e da falta de comprometimento com as coisas de Deus. Resumidamente: queremos uma fé que nos ajude para esse tempo presente. Quando buscamos esse tipo de fé, estamos
abrindo mão da fé firmada em Cristo que nos garante ver a Glória de Deus e nos
contentamos com a "esperança" de uma benção desejada e de ver para poder ter
convicção.
Na verdade o que
queremos? Uma razão para nossa fé? Estamos confundindo esperança com aquilo que
almejamos e certeza com aquilo que podemos ver (comprovar). Sendo assim, “a certeza das coisas que se esperam” acaba
limitada por aquilo que almejamos e a “convicção
daquilo que não se vê” se transforma em “eu creio no que posso comprovar e
entender”. Sim. Queremos uma razão para nossa fé. Mas, e quando a fé não tiver razão, o escolheremos? Se realmente a razão e a fé
andam de mãos dadas como pesava Thomas de Aquino, ou se são faculdades antagônicas
de nossa humanidade, não importa tanto (apesar de ser uma discussão muito
interessante). O relevante para nossa experiência com Deus é pensarmos que fé e
razão são complementares, mesmo que antagônicas. No entanto, a simplicidade da
fé não precisa necessariamente da complexidade da razão, pois a fé não precisa
ter razão quando ela é realmente experimentada em Cristo Jesus.
PJ