quinta-feira, 25 de julho de 2013

PASTORAL 28/07/13 - A VISITA DO PAPA


Somos evangélicos, protestantes e devemos fazer oposição ao Papa e a Igreja Católica? Vamos com calma. Temos muitas divergências teológicas e doutrinárias com a Igreja de Roma, mas antes de criticar o que chamamos de idolatria ao Papa, deveríamos entender o que significa esse cargo para um católico. O Papa Francisco I é: um chefe de Estado (o Vaticano); o líder da maior e mais antiga instituição religiosa em atividade no mundo; sucessor de Pedro (para os católicos), ou seja, ele é uma importante autoridade, não só para os católicos, mas para o mundo.  

Umas das coisas que sempre inquietou os estudiosos, foi o fato da Igreja Católica ter se mantido forte e viva durante milênios e agora, mais do que nunca, tenta uma espécie de renovação de sua fé. Na tentativa de responder essa questão Scott Maninwaring, coloca como explicação, a capacidade da Igreja relacionar bem a Tradição e o Carisma. Ou seja, a Igreja mantém firme a sua tradição, através da hierarquia e disciplina (dentre outras coisas), porém “permite” movimentos populares de cunho carismático de aproximação com as pessoas. Assim, a Igreja Católica mantém fidelidade à sua história, e ao mesmo tempo está perto do “seu povo”. Sendo que, para isso, a figura de um líder máximo, representa (e para os católicos é) a síntese da Tradição com o Carisma. Esse equilíbrio começa a ser recuperado com o novo Papa.

Então, podemos entender esse “novo tempo” para os Católicos como uma estratégia de manter a Igreja Católica viva? Ou, como uma nova forma de olhar para ação da Igreja? Certamente há uma necessidade dessa instituição se afirmar em meio às mudanças que ocorrem no mundo e, diante de muitas incógnitas e questões ainda a serem analisadas, me parece que ela busca voltar seus olhos para os menos favorecidos, recuperando o que foi colocado no Concílio de Vaticano II (década de 1960), quando a Igreja fez uma opção pelos pobres (de forma bem geral). A questão é por que agora? Será que depois de quase 50 anos os direcionamentos desse Concílio serão implementados de fato, como foi tentado na América Latina na década de 1970?  Isso ainda veremos. No entanto, pelo menos no discurso e em algumas atitudes simbólicas, vemos um Papa simples, buscando abrir mão dos privilégios, focalizando seu discurso em uma crítica ao modelo de vida ocidental baseado no edonismo e no lucro, além de trazer as periferias para os palanques, ou levando os palanques para as periferias. Seria uma estratégia para tirar o foco dos temas mais espinhosos (como aborto, homoafetividade, etc)?  Ou, seria mesmo uma ação da igreja realmente voltada para um evangelho da justiça social? Ainda veremos isso também.

Agora, do ponto de vista dogmático e doutrinário a proposta desse pontificado parece tão rígida como as dos seus dois antecessores. Porém, isso tende a ficar em segundo, terceiro, ou em quarto plano. A ênfase parece ser a luta por melhorias nas condições de vida de toda humanidade. Tomara que isso não seja apenas um discurso simbólico de abrir mão de certos privilégios, mas que possa inspirar e fomentar ações em prol daqueles que estão esquecidos por causa do nosso egoísmo religioso.

Portanto, nós batistas, não temos acordo com o catolicismo em questões dogmáticas e/ou doutrinárias, nem devemos ter, muito menos abrir mão de nossos princípios denominacionais. Mas, devemos pelo menos refletir sobre algumas coisas:

  • ·        Sobre a nossa capacidade de ouvir e dialogar com outras religiões, e visões de mundo diferentes. Entenda que não estou falando de aceitar como certo, ou verdadeiro, mas ouvir e dialogar. Será que realmente estamos dispostos a isso, ou queremos apenas impor nosso discurso?;
  • ·        Sobre a essência do que é religião: A religião pura e imaculada para com Deus e Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo. Tiago 1:27;
  • ·        Sobre o caminho que nós evangélicos estamos tomando, quando superdimensionamos o indivíduo e transformamos a Igreja em uma prestadora de serviços, deixado de ser um espaço espiritual de comunhão (viver junto, congregar);
  • ·        Sobre o nosso tipo de evangelismo. Será que estamos pregando para a pessoa ser salva pela fé em Cristo de forma plena?
  • ·        Será que ao invés de ficarmos criticando (e eu também tenho as minhas) o Papa, não podemos ouvi-lo e refletir o que realmente é viver o Evangelho de Jesus Cristo, não como católico ou protestante, mas como filhos de Deus lavados e remidos no Sangue do Cordeiro?

PJ


sexta-feira, 19 de julho de 2013

PASTORAL 21/07/2013 - IMAGEM


A IMAGEM
Em um mundo onde a imagem é mais importante que a realidade, o que esperar? Pessoas entram num templo para supostamente cultuar a Deus, mas ligam seus aparelhos e começam a filmar o “artista”; pelas ruas quando alguém cai, briga, é atropelado, rapidamente aparecem os paparazzis de plantão. Há uma neurose coletiva pelo registro. Hoje, eu acho que minha filha (de menos de dois anos) já tem mais fotos e filmes que eu já tive até agora. Nossa loucura é tanta que ao ver alguém morrendo, precisando de ajuda, nós iremos pegar nosso celular e começar a filmar, ao invés de ajudá-lo.

Às vezes achamos que se Deus fosse se revelar hoje, Ele iria gravar um vídeo no youtube, ou criar um perfil no facebook, ou ainda iria ficar mandando fotos no instagram, para alcançar o maior número de visualizações possíveis. Pensa comigo, Jesus no Getsemani gravando um vídeo de suas orações no monte, para postar e sensibilizar outros para sua causa. Ou ainda, qual seria repercussão de um vídeo com a coletânea dos grande milagres de Jesus? Seriam sucesso absoluto. “Só que não”.

Deus não escolheu aparecer para uma multidão. Quase todas as manifestações de Deus na Bíblia, Ele aparece para poucas pessoas. Deus nunca quis ser um sucesso midiático, pois essas coisas passam, mas aquilo que ELE fez na vida de Abraão, José, Jocó, Moiséis, Davi, Jeremias, Isaías, Paulo e outros, marcaram as suas vidas de forma tão forte que até hoje isso é lembrado como Revelação. Os “grandes eventos”, no sentido de número de pessoas, marcam  no máximo a nossa memória e fomentam nossas emoções,  mas o nosso coração é tocado somente quando nos colocamos sensíveis a voz de Deus e vivemos uma experiência pessoal.

Jesus não escolheu o sucesso e o aplauso das multidões, em certos momentos suas atitudes impopulares, como expulsar os vendedores do templo, fugir das multidões, questionar os seus discípulos a cerca do que as multidões o chamavam e se entregar para ser morto.  Essas atitudes,  estão em sintonia com um plano maior que está além de ser popular. Da mesma forma, a Igreja hoje não pode se esconder nas multidões, precisamos tocar as vidas das pessoas, mas isso não se dá somente com os grandes ajuntamentos, mas no face a face.  A Igreja precisa ser curada de sua neurose midiática, nós precisamos refletir se realmente queremos alcançar as pessoas através das mídias, ou apenas massificar o evangelho.


Pois a lógica da massificação tira a essência do evangelho, onde o “uns aos outros” passa a ser a imagem vendida na TV. Assim, o ser cristão passa a ser uma experiência como parte de uma massificação de uma ideia vendida, onde a ênfase é ser parte de uma grande igreja, pois isso reflete em status, ter bens materiais que garantem a imagem de cristão prospero e abençoado por Deus e por fim um relacionamento congregacional baseado na lógica de consumo, onde a Igreja é uma prestadora de serviços e os membros consumidores desses serviços. Portanto, não precisamos parecer com esse tipo de cristianismo midiático e massificado, é necessário apenas ser cristão porque parecemos com Cristo em atitude de amor a Deus e ao próximo, pois a imagem pode ser manipulada em qualquer fotoshop, mas quem é de Cristo, simplesmente é.
PJ

sábado, 6 de julho de 2013

PASTORAL 14/07/13 - CONVENCIDOS E CONVERTIDOS

CONVENCIDOS E CONVERTIDOS


Tem muita gente achando que basta ser convencido de que Cristo é o Caminho, a Verdade e a Vida, ou que é suficiente ter um templo cheio de pessoas para ter a sensação de dever cumprido. Porém, não basta reconhecer Jesus como Caminho, Verdade e Vida, é preciso caminhar nesse caminho, crer nessa verdade e viver em função do lugar que esse caminho nos levará e das promessas reveladas por esta verdade (João 14:6).

Se a gente der uma olhada ao nosso redor as pessoas estão buscando “razões” para permanecer na igreja, para ter uma determinada moralidade cristã, ou para ser um cristão de verdade. Mas, se olharmos com os olhos carnais, nós temos muito mais razões para não obedecer a Palavra de Deus, do que para obedecer. Mas como assim? Se queremos encontrar alguma lógica em ser cristão, não podemos utilizar os padrões desse mundo (presente século). Olha o que Paulo diz: “Mas Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios, e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes.” I Coríntios 1:27(NVI).

Não é que não possamos entender o agir de Deus, mas os parâmetros para esse entendimento são coisas loucas e fracas. Como assim? Veja, Jesus disse que para segui-lo é preciso negar a si mesmo e tomar a cruz (Lc.923),  Josué se posiciona de uma forma dura e radical diante de seus liderados (o que poderia custar-lhe a sua liderança) e declara: “se vos parece mal servir ao Senhor...”(Js.24:15). Além de tudo isso, o centro de toda ética cristã reside em Deus e no próximo e não em si mesmo. Isso significa que, a atitude “do ser cristão” envolve um olhar meio louco das coisas, pois desconsidera a “lógica do EU”.

Deus não busca pessoas convencidas, ou crentes moralmente aceitáveis, ou ainda indivíduos altamente capacitados para ser cristãos. Deus procura os verdadeiros adoradores que o adorem em espírito e em verdade.(João 4:24). Homens e mulheres dispostos, disponíveis e decididos a deixar Deus mudar a sua história. Precisamos ser transformados em nova criatura (IICo.5:17), mudando nossas atitudes em função da fé que experimentamos, deixando que o Espírito Santo derrame sobre nós a capacitação para realizarmos os propósitos de Deus em nossas vidas. Por isso, não adianta impor um tipo de moralidade cristã para um mundo e pessoas que não conhecem a Deus, muito menos tentar adaptar o Evangelho aos padrões edonistas de nosso tempo. O desafio não é convencer as pessoas, mas deixar que a renovação de nossa mente nos transforme, sem tomar a forma do mundo, para que assim, possamos experimentar a boa, perfeita e agradável vontade de Deus. #Venhaeviva
PJ