“Quando a mulher viu que a árvore PARECIA agradável ao paladar,
era atraente aos olhos e, além disso, desejável para dela se obter discernimento, tomou do seu
fruto, comeu-o e o deu a seu marido, que comeu também” Gn. 3:6
Quando Adão e Eva
passeavam pelo Paraíso será que realmente eles tinham tudo? Se tinham, o que os
vez desejar desobedecer a Deus? Se não tinham, por que hoje várias religiões
falam do “Paraíso”? Será que quando chegarmos ao “Paraíso” ainda sentiremos
falta de algo, como Adão e Eva sentiram?
Talvez o que tenha despertado no coração de Eva o desejo de comer o
fruto tenha sido o fascínio pelo novo e pelo desconhecido, ou ainda ter se
deixado levar pelos desejos do paladar, dos olhos e da mente.
Nos dias de hoje
culpamos Adão, Eva, e até a Serpente, pelo pecado e por ter nos tirado do
Paraíso. Na verdade estamos fugindo do foco da narrativa. Não deveríamos ver
esse texto apenas como uma explicação de como o pecado entra no mundo, mas,
também, de como o pecado entra nas nossas vidas, nos afastando da presença de Deus. Pois, a Palavra de Deus é atemporal,
ou seja, fala de coisas eternas e, por isso, úteis para todos os tempos. Ainda
hoje, o que move nossos corações a nos afastar de Deus é a mesma vontade, quase
incontrolável, de experimentar o que nos parece agradável, atraente e desejável. Então, aqui temos uma escolha a fazer, a
mesma escolha que foi proposta a Adão: ser obediente a voz de Deus, ou se deixar
levar pelo que PARECE ser bom.
Tem uma história bem
interessante de um cachorrinho que encontrou um pedaço de carne bem suculenta.
Quando voltava para casa, ele se deparou com um rio de correnteza forte, ao
parar na margem percebeu que seu reflexo nas águas dava a impressão de ser
outro cachorro com um pedaço de carne maior do que o seu. Então, soltou a sua
carne que caiu na água, sendo levada pela correnteza. Esse conto ilustra bem o
quanto somos seduzidos por aquilo que não é real, quando desejamos na verdade o
nosso próprio reflexo, corremos o risco de perdermos o que já temos.
Então devemos aniquilar
todos nossos desejos, instintos, nossas humanidades
e obedecermos a Deus de forma cega e inquestionável? Quem me dera isso
fosse possível. Porém, o problema não são nossas humanidades, mas os valores que determinam nossas escolhas. O erro
não está em ver que algo é agradável ao paladar, ou atraente aos olhos, ou
ainda desejável para se obter discernimento, o vacilo está em se deixar
levar por essas SENSAÇÕES e perder
tudo aquilo que Deus nos deu. Podemos estar deixando a Presença de Deus (o
Paraíso) porque temos deixado nossas sensações, sentimentos e expectativas determinarem
nossas escolhas.
A Igreja Protestante,
durante todo século XIX e boa parte do XX, enfatizou a necessidade de aniquilar
os instintos humanos, como forma de manter-se na presença de Deus. Isso,
produziu críticas bem relevantes de homens como Nietzsche (século XIX) e Freud
(século XX) no sentido de que o Cristianismo podava os instintos humanos e por
isso a própria humanidade. De certa forma, eles tinham um pouco de razão. Porém
, ao mesmo tempo que o protestantismo vinha “reprimindo” as nossas humanidades,
movimentos de valorização das emoções começam a surgir (como o
pentecostalismo). Assim, chegamos ao fim do século XX e início do XXI tentando
atender os desejos e as sensações das pessoas. Onde, culto bom é o culto que nos
faça chorar.
Portanto, se de um lado
temos a invenção de uma Igreja emo-espiritual
voltada para a experimentação sensorial, emotiva e estimuladora; do outro temos
a negação total da nossa humanidade (instintos, desejos e sentimentos). Os dois
extremos nos afastam de Deus. Pois, o emo-espiritualismo,
confunde emoções com mover do Espírito, aí somos facilmente seduzidos pelo
que parece ser agradável, atraente e desejável. Já a negação total dos nossos instintos, gera em nós doenças emocionais.
A solução, apresentada pela Palavra de Deus é muito simples, devemos nos
sujeitar a Deus e resistir ao Diabo (Tg 4:7). Não adianta reprimir cegamente nossas
humanidades, nem confundir sensações emocionais com a presença de Deus. Mas,
devemos sujeitar nossas impressões da realidade a Deus e resistir a tudo aquilo
que é contrário à Palavra, mesmo que pareça bom aos nossos olhos. Assim,
a Presença de Deus nos basta quando temos a dimensão do que Ela é, sem nos
deixar enganar pelo que só parece ser.
PJ